sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Relatório do Estado da Educação 2021

Fica a partilha para que iniciemos análises à análise do Estado da Educação 2021.
Este é um relatório produzido pelo Conselho Nacional de Educação.
Existem ações que têm, de forma assertiva, mesmo que difíceis, de ser tomadas, sob pena de não conseguirmos 'estar' na Educação ou que esse passe de um estado sólido para cada vez o estado gasoso!!!


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O Estado da Educação 2021 integra os principais indicadores da educação em Portugal, apresentando os dados relativos ao ano de 2021 e as evoluções verificadas na última década, bem como as comparações internacionais com o que ocorreu em países da UE ou da OCDE.

A Parte I – Estado da Educação: Dados de referência encontra-se dividida por capítulos respeitantes à população, qualificação e emprego; educação e formação de crianças, jovens e adultos; recursos humanos; recursos financeiros; recursos para a aprendizagem; e equidade.

A Parte II – Futuros e desafios da educação reflete sobre as profundas alterações em curso nas sociedades contemporâneas e, em especial, sobre as suas implicações na educação. São apresentadas algumas visões prospetivas sobre o que se espera que a educação proporcione às pessoas e abordadas algumas das tendências em curso, que estão a transformar a educação.

A Parte III – Pensar a educação: contributos para a reflexão do CNE integra textos de investigadores de instituições do ensino superior que foram convidados a fazer uma reflexão sobre cada um dos seis temas escolhidos para o desenvolvimento do trabalho do CNE nos próximos
anos: o currículo escolar, enquanto organização de conhecimento, atitudes e valores; as políticas orientadas para a inovação pedagógica; o reforço da relação entre a escola e a sociedade; a profissão docente e o papel dos professores; a inclusão e os desafios colocados pelas
desigualdades educativas; e o desenvolvimento do ensino superior, da ciência e tecnologia em Portugal.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

As inquietações dos professores: sugestões de debate

ou



Estamos numa fase de inquietação educativa, com milhares de professores e profissionais de educação a implorarem para serem ouvidos, naquelas que são algumas das queixas, já de longo termo. É evidente que sendo a Educação uma área estratégica de um país, esta tem de ser olhada com um forte investimento, ao invés da sistemática valorização dos seus custos, levando a uma degradação de todo o sistema educativo, e no futuro de outras áreas do próprio país.
O reconhecimento da sociedade, que nestas épocas mais audíveis, parece ser tão unânime, sobre o valor da Educação para o próprio desenvolvimento da sociedade, e do papel imprescindível de um professor, cai rapidamente no esquecimento, levando a que a atração pela própria profissão seja desaconselhada pelos próprios pais. Aliás, se as famílias, desejam bons professores para os seus filhos, poucas são as que desejam que os seus filhos sejam professores. Este é o primeiro sinal de falta de valor e reconhecimento. O outro acontece quando tantos surgem a construir opinião e palpites, na ebulição destas manifestações, sem que sejam sequer professores, resultando em fracas, pobres e turvas leituras sobre o que é, realmente, a Educação ou o papel de um professor. O papel da Escola é facilmente descaracterizado por uma sociedade que a única ligação que tem à Escola é, muitas das vezes, o tempo que passou na mesma enquanto aluno, ficando a sua imagem de Escola presa num tempo e num espaço, que associa o papel de um professor, exclusivamente, ao tempo letivo em que ocupa, apenas ocupando o tempo dos alunos. Esta valorização está novamente a ser realçada pela sociedade, através da ideia da recuperação de aprendizagens, gerada pelas greves, não percebendo, que a verdadeira perda já acontece em turmas sem condições materiais, enormes, em turmas sem professores pela ausência de atração pela profissão e a perda que virá no futuro se mantivermos o atual estado da Educação. Esta é uma demanda social e não apenas de uma classe profissional, que não é compreendida, pela falta de reconhecimento desse verdadeiro papel.
Deste modo, será muito fácil perceber, que a falta de professores está a levar a uma perda de qualidade, através de um processo de des-profissionalização, uma vez que caminhamos na contratação de outros profissionais que não docentes (de origem) ou de formação rápida de “docentes” que não substituirão os atuais pedagogos nessa mesma qualidade, deixando o sistema educativo órfão de um desenvolvimento profissional que levou anos a consolidar.
Deste momento, deveria resultar um pensamento alargado e sério de um memorando para um consenso político nacional para a Educação, na definição de linhas orientadoras e estratégicas para um prazo mínimo a 10 anos, que não se subjugasse a ciclos políticos. Estamos há mais de 22 anos no século XXI, reconhecido pela inovação digital, mas no mesmo tempo em que faltam infraestruturas e o mesmo digital, no mesmo tempo em que se flexibiliza o mesmo currículo, sem capacidade de desmistificar processos de aferição de aprendizagens eficazes e compreensíveis para todos, no mesmo tempo em que se fala de inclusão, excluindo cada vez mais recursos humanos que suportem esses mecanismos de apoio, no mesmo tempo de uma era digital cada vez com mais burocracia.
É fundamental definir-se um plano que se possa concretizar a curto, médio e longo prazo, com metas aceites e debatidas na comunidade educativa. Assim, algumas sugestões que servirão para alimentar o debate e solicitar o pensamento entre todos os que pretendem, de facto, uma melhor Escola, uma melhor profissão, atraente e valorizada. Assim, a redefinição ou, eventual fusão, entre o 1.º e o 2.º Ciclo do Ensino Básico, prolongando o primeiro ciclo por 6 anos, ao invés dos atuais 4 anos, mantendo uma vertente de monodocência, mas valorizando as diferentes áreas do saber com a atribuição e reforço dos processos de coadjuvação e pares pedagógicos. 
A desburocratização do sistema educativo tem de ser uma prioridade, o tempo, que deveria ser pedagógico, é algo que não pode ser desperdiçado em tarefas administrativas exageradas e sem sentido na atualidade, já que as mesmas podem ser concretizadas por sistemas digitais automáticos ou por outros profissionais que não os especialistas pedagógicos (professores). É preciso garantir mais tempo para a sua ação pedagógica, reduzindo a carga de trabalho não letiva, reduzindo o número de reuniões e dezenas de horas em atividades extracurriculares.
A alteração do número de alunos por turma é muitas vezes esquecida, mas sabemos que um processo de aprendizagem eficaz só acontece com menos de 18 alunos por turma. Ainda nesta condição, é necessário reduzir drasticamente o número de turmas atribuídas a cada professor, torna-se impensável qualquer trabalho objetivo com, em muitos casos, mais de uma centena de alunos por disciplina, devendo esses professores completar horários com a dinamização de projetos ou clubes, aumentando a dimensão informal da Educação. No caso das turmas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, continua a ser absurda, nos dias de hoje, a manutenção de mais do que um nível de escolaridade em muitas turmas de escolas deste país, pois só levam a um esforço inglório destes professores e de exclusão de aprendizagens de alunos que ficam por si, sem apoio e desmotivados no processo de aprendizagem.
O reforço dos recursos humanos das escolas tem de ser efetivo e contínuo, não por cada ano letivo, mas a longo prazo, facilitando o planeamento de cada instituição, seja no número de professores, técnicos especializados e auxiliares da ação educativa. Neste campo, o reforço das unidades de apoios educativos e educação especial é outra componente inexistente, em muitos casos falamos de 1 hora por semana por aluno com necessidades de apoio, que não tem qualquer impacto. Torna-se, assim, fundamental o reforço efetivo de horas de apoio nas turmas, psicólogos e terapeutas educativos, podendo ser criada a figura do professor mentor, que ajuda na definição de intervenções prioritárias com alunos em estreita colaboração com a figura do diretor de turma.
Se por um lado muitas escolas redefiniram espaços e melhoraram as suas infraestruturas físicas, outras necessitam de evidente reestruturação. Porém, é ausência de condições de gestão de espaços, redefinição de layouts, condições da rede elétrica e condições digitais que urgem intervenção, se pretendemos continuar a falar de escolas do século XXI.
Discutir um modelo de progressão e avaliação dos alunos justo, só pode ser feito, se também os professores o tiverem, porque atualmente, é um processo de incoerência e injustiça atroz. Não podendo continuar afeto e refém de quotas de acessos aos outros escalões, também é verdade que não será propriamente justo, um sistema automático de progressão na carreira. Avaliar o mérito, tal como nos alunos, deve ser realizado olhando para a ética profissional, para a participação em projetos e na operacionalização de práticas pedagógicas inovadoras e inclusivas. A frequência em espaços de debate sobre Educação, formação superior e ou especializada contínua deverá ser premiada e não em formatos de obrigatoriedade.
Pensar os currículos através do desenvolvimento de planos personalizados de ação, com definição dos conceitos estruturantes de cada área disciplinar, sistematizado em competências de aprendizagem, que façam encurtar os currículos obesos e adequá-los a uma sociedade e vida quotidiana atualizada. Será essencial que os currículos criem experiências culturais e artísticas interligadas com literacia e numeracia, potenciando a ligação ao meio onde as escolas se inserem.
Se pretendemos ter os melhores professores, é também urgente reformular a formação inicial dos mesmos, reforçando a componentes científicas, pedagógicas e redimensionando as experiências em contexto de trabalho. A formação de professores deve assumir definitivamente a liderança dos processos pedagógicos, participando na seleção dos candidatos, ao invés de estar sistematicamente na cauda da inovação pedagógica e refém da seleção de futuros professores, feita por outros. Neste campo, será necessário oferecer apoio e orientação aos novos professores no início e ao longo da carreira, com o suporte dos professores que se encontram perto do final das suas. Estes deveriam ver reduzido o tempo letivo e o número de turmas, passando a preencher os seus horários numa estreita ligação ao acompanhamento de novos professores, garantindo uma transição e passagem de testemunho não tão abrupta e ao mesmo tempo envolver-se na novidade e energia que outros trazem ao sistema educativo.
É também evidente que os salários terão de ser muito mais competitivos, com uma remuneração atraente e condicente com a especificidade e maturidade da profissão. O apoio com recursos digitais, nomeadamente, hardware e software específico, materiais didáticos devem estar presentes para atrair e reter estes profissionais, mas também nos incentivos e suporte à deslocação, num processo que só pode culminar com o fim da precaridade profissional, que se alastra com muitos professores há tantos anos, levando-os a desistir de exercer. 
Sendo claro que os professores ocupam um papel primordial no processo, de inevitável, transformação e liderança educativa, não podemos permitir que continuem a não ser ouvidos nas suas necessidades, numa sociedade democrática. São os professores que, diariamente, pensam e repensam as práticas e os processos de aprendizagem nas escolas, pelo que a sua valorização profissional é uma demanda. Para atrair novos professores e manter de forma estável e saudável os atuais, carece a promoção positiva, a recompensa social para voltar a inspirar e revalidar a nobreza da profissão de professor.

Marco Bento
Professor na Escola Superior de Educação de Coimbra / Investigador em Tecnologia Educativa na Universidade do Minho / Coordenador do Projeto SUPERTABi Maia / Consultor em Educação


sábado, 14 de janeiro de 2023

Juntos a pensar a Educação!

Juntos a pensar a Educação!

Hoje, viajo em cada autocarro lotado de professores nas autoestradas de Portugal.
Eu sou professor! Esta foi a profissão que escolhi e que exerço com orgulho!
Ontem à noite não acreditava no que ouvia nos comentários do ex-ministro Crato, a ideia que se tem de uma sala de aula, de um professor, de avaliação e sistema educativo é assustadora!
Não podemos continuar a aceitar que, acima de tudo, as opções pedagógicas sejam tomadas por outros que não os maiores especialistas qualificados em Educação (professores). Não podemos aceitar esta nova ideia, a formar-se, de recuperação de aprendizagens, agora pelas greves, quando milhares de alunos estão sem aulas pela ausênciade professores colocados ou ausênciade atração pela profissão. Não podemos aceitar que não exista liberdade de pensamento pedagógico e processos participativos num sistema cheio de burocracias controladoras. Não podemos aceitar ausência de avaliação docente, com indicadores absurdos aos olhos de qualquer criança de 6 anos.
Valorizar a profissão não pode ser pelas palmas, mas pela ação!
Relembro que o respeito não o podemos exigir, temos de o ganhar e para isso, a ética de uma profissão está hoje em avaliação, sejamos determinados e conscientes desta ação e que não nos prejudiquemos perante os olhares ávidos de que isso aconteça.

Em nota de rodapé, as operações stop, que se estão a realizar pela polícia, com revista de mochilas é algo que nos deve envergonhar enquanto estado democrático! 
Todos sabem que não existem materiais inflamáveis nas escolas, os professores de química têm de simular com H2O, e nem dispositivos digitais suficientes para uma ligação à Internet em condições... quanto mais para criar cocktails... anda tudo a chá e bolachas!!!

Deixo aqui o texto publicado na página do SIPE, 14 de janeiro de 2023

Estamos no 2.º período do ano letivo 2022/2023, são 23 anos após o ano 2000. Na verdade e sob a égide do aluno, professor e escola do século XXI, mais de 20 anos dentro do denominado século da inovação, continuamos a tentar recuperar aprendizagens com velhos currículos, a tentar falar de escola digital com ausência de digital, a tentar flexibilizar o que não se compreende e acima de tudo, a tentar fazer escola sem recursos humanos em número e em presença motivada para a ação pedagógica.
Grita-se e implora-se junto da Escola uma normalidade utópica, patente cada vez mais que a quantidade de tempo letivo não é sinónimo da qualidade do mesmo, que manter os alunos e professores numa Escola a tempo inteiro, fechados de manhã à noite em espaços escolares, que necessitam de outra diversidade, de outra cultura e de outra visão, tornou-se penoso para todos os que “vivem” na Escola. Os professores evidenciam um claro cansaço, desmotivação e um pensamento alheado de uma escola que os deixou de valorizar há muito. É preciso ter a capacidade de olhar para uma classe docente envelhecida, com uma média de idades que se situa nos 55 anos, uma classe docente que omite depressões, burnout e uma enorme desmotivação profissional, muito pela desvalorização completa de uma profissão que é exigente. Esta não é uma profissão de trabalho entre as 9 e as 17 horas, mas é uma vocação com ligação emocional, sempre numa contínua preocupação e pensamento espácio-temporal com todos os alunos, com os currículos, com as avaliações e numa sobrecarga de burocracias.
A forma de agradecer a estes professores não pode ser com palmas, deve ser com ação concreta e não exigindo propostas de aumento do tempo letivo e mais burocracia, sabendo que o tempo de trabalho vai muito para além das horas reais com os alunos.
Os desafios da educação passam por maior e constante investimento nos recursos humanos e materiais, nas infraestruturas e tecnologias (digitais ou não), relembrando que a Educação não é um custo, porque os resultados são de longo prazo, que se traduzem em maior qualidade de vida num país. Outro desafio passa por compreender as desigualdades de oportunidades nas diversas regiões do país, tanto para os alunos, como para os professores, que sem apoio, lhes é exigido o mesmo resultado educativo, comparando-se com outros professores e outros alunos, tornando qualquer processo de avaliação injusto e seletivo pela negativa.
Talvez um dos maiores desafios passa por conseguir professores qualificados, desde o momento que uma sociedade consegue atrair jovens para uma profissão que necessita ser atrativa no seu processo de seleção, suporte, vinculação, mas também saber reter os professores qualificados, sob pena de perdermos a alta taxa de qualificação profissional que o país ainda tem. Torna-se essencial, de uma vez por todas, conseguir acompanhar as mudanças tecnológicas. A tecnologia avança rapidamente e a Educação precisa de acompanhar as mudanças sociais, inclusive, de as liderar, de forma a garantir que os alunos estejam preparados para o mundo do trabalho. Outro dos grandes desafios é a falta de tempo, uma vez que os professores têm uma carga de trabalho pesada, incluindo a preparação de aulas, correção de trabalhos, participação em reuniões e atividades extracurriculares. É evidente que deixam de ter tempo para atividades pessoais ou para se atualizarem na sua área de atuação, o tempo para pensar e criar é determinante numa profissão que exige pensamento livre e criativo.
Naturalmente, que um professor, especialista da pedagogia enfrentar a falta de recursos, atualização profissional, limitação aos vínculos e pseudo-avaliações de carreira, baixa remuneração, quando comparada com outras profissões com formação semelhante, e baixo valor social, torna-se complexa a situação.
O tempo é de coragem e de reconhecimento real pela arte de ensinar e aprender ao longo da vida!




Marco Bento
Professor e Investigador na Escola Superior de Educação de Coimbra

sábado, 7 de janeiro de 2023

Obrigado Professores

Artigo no Jornal Público de 7 de janeiro de 2023

Um texto de uma enorme clarividência de um Senhor Professor!

A ler por todos os que devem neste momento levantar a voz e defender a sua profissão, os professores!



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