sábado, 14 de janeiro de 2023

Juntos a pensar a Educação!

Juntos a pensar a Educação!

Hoje, viajo em cada autocarro lotado de professores nas autoestradas de Portugal.
Eu sou professor! Esta foi a profissão que escolhi e que exerço com orgulho!
Ontem à noite não acreditava no que ouvia nos comentários do ex-ministro Crato, a ideia que se tem de uma sala de aula, de um professor, de avaliação e sistema educativo é assustadora!
Não podemos continuar a aceitar que, acima de tudo, as opções pedagógicas sejam tomadas por outros que não os maiores especialistas qualificados em Educação (professores). Não podemos aceitar esta nova ideia, a formar-se, de recuperação de aprendizagens, agora pelas greves, quando milhares de alunos estão sem aulas pela ausênciade professores colocados ou ausênciade atração pela profissão. Não podemos aceitar que não exista liberdade de pensamento pedagógico e processos participativos num sistema cheio de burocracias controladoras. Não podemos aceitar ausência de avaliação docente, com indicadores absurdos aos olhos de qualquer criança de 6 anos.
Valorizar a profissão não pode ser pelas palmas, mas pela ação!
Relembro que o respeito não o podemos exigir, temos de o ganhar e para isso, a ética de uma profissão está hoje em avaliação, sejamos determinados e conscientes desta ação e que não nos prejudiquemos perante os olhares ávidos de que isso aconteça.

Em nota de rodapé, as operações stop, que se estão a realizar pela polícia, com revista de mochilas é algo que nos deve envergonhar enquanto estado democrático! 
Todos sabem que não existem materiais inflamáveis nas escolas, os professores de química têm de simular com H2O, e nem dispositivos digitais suficientes para uma ligação à Internet em condições... quanto mais para criar cocktails... anda tudo a chá e bolachas!!!

Deixo aqui o texto publicado na página do SIPE, 14 de janeiro de 2023

Estamos no 2.º período do ano letivo 2022/2023, são 23 anos após o ano 2000. Na verdade e sob a égide do aluno, professor e escola do século XXI, mais de 20 anos dentro do denominado século da inovação, continuamos a tentar recuperar aprendizagens com velhos currículos, a tentar falar de escola digital com ausência de digital, a tentar flexibilizar o que não se compreende e acima de tudo, a tentar fazer escola sem recursos humanos em número e em presença motivada para a ação pedagógica.
Grita-se e implora-se junto da Escola uma normalidade utópica, patente cada vez mais que a quantidade de tempo letivo não é sinónimo da qualidade do mesmo, que manter os alunos e professores numa Escola a tempo inteiro, fechados de manhã à noite em espaços escolares, que necessitam de outra diversidade, de outra cultura e de outra visão, tornou-se penoso para todos os que “vivem” na Escola. Os professores evidenciam um claro cansaço, desmotivação e um pensamento alheado de uma escola que os deixou de valorizar há muito. É preciso ter a capacidade de olhar para uma classe docente envelhecida, com uma média de idades que se situa nos 55 anos, uma classe docente que omite depressões, burnout e uma enorme desmotivação profissional, muito pela desvalorização completa de uma profissão que é exigente. Esta não é uma profissão de trabalho entre as 9 e as 17 horas, mas é uma vocação com ligação emocional, sempre numa contínua preocupação e pensamento espácio-temporal com todos os alunos, com os currículos, com as avaliações e numa sobrecarga de burocracias.
A forma de agradecer a estes professores não pode ser com palmas, deve ser com ação concreta e não exigindo propostas de aumento do tempo letivo e mais burocracia, sabendo que o tempo de trabalho vai muito para além das horas reais com os alunos.
Os desafios da educação passam por maior e constante investimento nos recursos humanos e materiais, nas infraestruturas e tecnologias (digitais ou não), relembrando que a Educação não é um custo, porque os resultados são de longo prazo, que se traduzem em maior qualidade de vida num país. Outro desafio passa por compreender as desigualdades de oportunidades nas diversas regiões do país, tanto para os alunos, como para os professores, que sem apoio, lhes é exigido o mesmo resultado educativo, comparando-se com outros professores e outros alunos, tornando qualquer processo de avaliação injusto e seletivo pela negativa.
Talvez um dos maiores desafios passa por conseguir professores qualificados, desde o momento que uma sociedade consegue atrair jovens para uma profissão que necessita ser atrativa no seu processo de seleção, suporte, vinculação, mas também saber reter os professores qualificados, sob pena de perdermos a alta taxa de qualificação profissional que o país ainda tem. Torna-se essencial, de uma vez por todas, conseguir acompanhar as mudanças tecnológicas. A tecnologia avança rapidamente e a Educação precisa de acompanhar as mudanças sociais, inclusive, de as liderar, de forma a garantir que os alunos estejam preparados para o mundo do trabalho. Outro dos grandes desafios é a falta de tempo, uma vez que os professores têm uma carga de trabalho pesada, incluindo a preparação de aulas, correção de trabalhos, participação em reuniões e atividades extracurriculares. É evidente que deixam de ter tempo para atividades pessoais ou para se atualizarem na sua área de atuação, o tempo para pensar e criar é determinante numa profissão que exige pensamento livre e criativo.
Naturalmente, que um professor, especialista da pedagogia enfrentar a falta de recursos, atualização profissional, limitação aos vínculos e pseudo-avaliações de carreira, baixa remuneração, quando comparada com outras profissões com formação semelhante, e baixo valor social, torna-se complexa a situação.
O tempo é de coragem e de reconhecimento real pela arte de ensinar e aprender ao longo da vida!




Marco Bento
Professor e Investigador na Escola Superior de Educação de Coimbra

5 comentários:

  1. Excelente texto! Faço minhas as suas palavras. É urgente a mudança na educação, para isso vamos lutar até conseguir o que se reivindica. Força na luta! A Escola Pública tem que se atualizar no ano 2023 do século XXI

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    1. A coragem de todos os que dispensaram um sábado, que poderia ser de um merecido descanso, é notável. Que se reconheça o esforço diário de cada um, o

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Albina Bessa14 janeiro, 2023

    Excelente texto! Faço minhas as suas palavras. Força na luta, não desistam até se obter o melhor para a educação. A escola pública tem que mudar. Tem que responder aos desafios do século XXI. Viva a comunidade educativa!

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