Primeiro Ministro anuncia 400 milhões para a escola digital… portanto vamos ter uma escola digitalizada… ou seja vamos fazer um scanner à escola e levá-la do papel para o digital… chegará?
O investimento será na sua grande maioria em redes e hardware, com a disponibilização de equipamentos a um grande número de alunos, nomeadamente, os alunos com maiores dificuldades económicas. Além disso, a proposta consagra também “capacitar professores na área digital e desmaterialização de manuais escolares” através de “um conjunto de formações de curta duração”.
Bom, fica-se com uma sensação de Déjà-vu sobre um Plano que teve no seu auge um dispositivo que se publicitava como tão importante quanto a viagem de circum-navegação de um tal de Magalhães. É importante relembrar o potencial que poderia ter sido conquistado nessa viagem, quando um contexto de 1:1 estava criado e foi recalcado como 1:n (no qual o professor continuou a assumir o protagonismo da aprendizagem ao seu ritmo). Este é o tempo de tentar evitar os erros dessa mesma volta… pois voltámos ao ponto de partido em pouquíssimo tempo. Andamos há demasiado tempo a fazer experiências com apps e plataformas… quando redefinimos o rumo da viagem para algo mais profundo, redefinir o processo de implementação dando o protagonismo ao aluno para criar, desenvolver, produzir e comunicar?
Também nesta primeira proposta fica a ideia de que uma transição pode não significar qualquer tipo de mudança, mas apenas a transferência e esta ideia ganha força, quando se junta à transição… a ideia de digitalizar a escola. Neste sentido, fazer o mesmo que se faz nas versões de escola analógica, mas agora com tecnologia é quase a mesma coisa que passar de uma leitura de um livro em papel para a leitura de um livro em PDF… pois faço o mesmo tipo de leitura, mas cansa muito mais e só achamos piada nas primeiras leituras!
O que pretenderemos não é em vez de uma transição, uma transformação?
O que pretenderemos não é em vez de uma transição digital, uma transformação pedagógica?
Se olharmos para a metáfora da leitura do livro… lembro que um PDF de um livro não é um eBook, porque um eBook é interativo, tem um formato de leitura que inclui ação, áudio, vídeo, atividades que provocam no leitor o controlo sobre o que lê, a forma como o faz e isso não é tão fácil conseguir, porque do ponto de vista pedagógico obriga-nos a repensar o desenho de uma atividade. Questiono se este investimento se coaduna com “um conjunto de formações de curta duração na área do digital”? Não será preciso apostar muito mais forte numa ambientação pedagógica conhecer modelos é diferente de aplicar os modelos e essas experiências pedagógicas têm de ser operacionalizadas em contextos reais que não se conseguem em ações de curta duração para ficar nas gavetas dos certificados e para progressão de carreira!
Hoje, é preciso perceber como tem de se redefinir o currículo, o que/como ensino e o que/como o aluno aprende. Mas também como este pode ser articulado com as várias áreas disciplinares, como poderemos desenvolver atividades que promovam a autorregulação e estudo autónomo em modelos invertidos de aprendizagem, nos quais os alunos controlam o que aprendem e lhes é dada a permissão de aprender por si (não confundam com aprender sozinhos… isso já o fazem muitas vezes e não resulta).
Podem-se investir milhões em material didático, milhões em computadores, milhões em tablets, internet e afins… todos ficamos contentes… nos primeiros tempos, mas depois é como termos um martelo novo para pregar pregos, quando começamos a pregar os pregos e construir a casa, percebemos que os nossos alunos não são pregos, mas sim parafusos… e não vai funcionar pois não?
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